
Mais um artigo publicado por mim no blogue "Todo-o-Mundo". Isto assim é engraçado - escrevo nos blogues dos meus amigos, e como acho os textos interessantes, acabo-os por publicar no meu :D
Sou um adepto inveterado das novas tecnologias e olho para a mesma evolução com uma visão de desejo por um futuro menos catastrófico e desastroso (porque tal também é possível, fazendo a correcta utilização da tecnologia e dos seus respectivos avanços, em todas as áreas de investigação) - As novas tecnologias, na sua génese constante, não estão diametralmente opostas aos direitos fundamentais da humanidade. A humanidade é que não sabe tirar, por vezes, o devido proveito para a sua auto-evolução.
Os direitos fundamentais e garantias, surgem no sentido de criar “linhas-mestras”, guias para a vivencia, convivência e protecção do Homem, reconhecendo e tentando precaver regimes autoritários, totalitários, e absolutistas. Assim, no artigo 5º no capítulo X dos Direitos Fundamentais, estão previstos vários tipos de privacidade – desde o direito à intimidade e individualidade (etc.) ao direito à integridade da “imagem-retrato” versus “imagem-atributo”. Qualquer pessoa, antes de ser focada a sua ascendência, tem o direito à sua individualidade e intimidade. Cabe a cada um de nós, fazer a gestão do que deve e do que não deve ser transmitido.
Os regimes e estados autoritários têm início no berço e âmago da nossa educação pelos pais e famílias. É erro comum dos nossos pais, acharem-se “donos” e detentores da nossa existência, sob todas as suas formas. Todos temos, desde que nos tornamos fisicamente independentes, o direito aos nossos pensamentos mais profundos, à nossa intimidade, à nossa vida privada ou sexual. Os nossos pais, quais oleiros a trabalhar o barro, pretendem dar-nos a “forma” que acham que nos deve padecer, mas também essa forma é um direito que nos assiste, como seres individuais. Que seria da minha imagem-atributo e da minha honra objectiva (o conceito de pessoa no meio social que nos rodeia), perante a sociedade, se fossem “publicados” os meus devaneios de adolescência? E não apenas os meus – os de toda a gente.
Por mais poético e terno que possa parecer a projecção de uma imagem impoluta e “editada”, o meu cérebro não deixa de fazer a associação de imagens entre o “editor” do “The Final Cut” e a imagem castradora do censor do estado novo, munido do seu lápis azul, a corrigir e indicar o não deve ser publicado!
O ser humano, em toda a sua plenitude, é constituído por uma sequência de acontecimentos, de interacções, de defeitos e virtudes - É isso que nos incute individualidade, carácter e personalidade. Quem nos rodeia, não necessita de ter acesso ao fio condutor da nossa individualidade, pois tal informação deve ser apenas reservada a nós.
Somos muito mais do que a matéria física que apresentamos aos outros. No nosso cérebro, na nossa intimidade, nem mesmo o decoro do martelo moral pode ter acção. Serve-nos de resto, os princípios morais que nos foram incutidos, mas não os julgamentos alheios - pois também os outros têm o direito à sua intimidade, individualidade e privacidade. E tudo se poderá resumir numa única frase: A nossa liberdade acaba quando começa a dos outros.
Post Scriptum: A ficção científica, nas suas múltiplas representações, legou-nos já alguns filmes como “Blade Runner”,“Gattaca”, “Equilibrium”, “O Homem Bicentenário” (baseado na obra de Isaac Asimov - The Bicentennial Man), o “THX1138” ou mesmo o “Aeon Flux”. Todos eles, de uma forma ou de outra, referem-se às enumeras questões relacionadas com perdas de direitos fundamentais. Recomendo vivamente visualizarem com um olhar crítico e atento, os filmes supracitados (fala-vos o coração de um adepto fanático da ficção científica).